Por João Vitor Souza
O professor do Departamento de Economia e da Pós-graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Luccas Assis Attílio, teve seu mais recente estudo publicado na Resources Policy, revista científica de destaque internacional na área de políticas de recursos naturais. Intitulado "How sensitive is nuclear production to critical minerals?", o artigo investiga a dependência da produção de energia nuclear em relação à disponibilidade e ao preço de minerais críticos como urânio, níquel e cobre.
Segundo o autor, a pesquisa é um desdobramento de sua atuação na área de transição energética, com ênfase no papel da energia nuclear nesse processo. Ele destaca que, "ao contrário de outras fontes renováveis (como solar, eólica e hidrelétrica), a energia nuclear não depende de condições climáticas e emite baixa quantidade de gases de efeito estufa, sendo uma alternativa viável no combate às mudanças climáticas". A investigação surgiu da preocupação com o suprimento de minerais críticos, especialmente o urânio, essencial para o funcionamento de usinas nucleares.
A pesquisa utiliza uma amostra de 38 países — responsáveis por 94% da produção nuclear mundial — e aplica modelos econométricos avançados, como o GVAR (Global Vector Autoregressive) e a Causalidade de Granger, para analisar dados entre novembro de 2000 a dezembro de 2023. Os resultados apontam que o aumento nos preços desses minerais impacta negativamente a produção global de energia nuclear, evidenciando efeitos de transbordamento entre os países.
Entre os achados, chamou a atenção a influência dos preços do petróleo na produção nuclear dos Estados Unidos, efeito capturado pelo modelo, embora não seja o foco principal do estudo. O professor afirma que o dado revela uma dualidade na matriz energética norte-americana, marcada pela forte dependência do petróleo, tendência que se intensificou no atual governo de Donald Trump.
Além disso, a decomposição da variância mostra que os mercados de petróleo e de ações também exercem influência sobre a produção nuclear, sendo o petróleo um fator especialmente relevante nos Estados Unidos e na Europa. A robustez das conclusões foi confirmada por meio de diferentes testes, que consideraram variáveis como o impacto da pandemia de covid-19, a volatilidade dos preços do petróleo e mudanças na frequência dos dados analisados.
Com base nas evidências, Luccas afirma que políticas públicas direcionadas à garantia do suprimento de urânio, por meio da ampliação da produção ou de acordos comerciais com os principais países produtores (Austrália e nações africanas), são essenciais para manter a viabilidade da energia nuclear na transição energética. No caso do Brasil, ele pondera que mesmo com a importância estratégica da energia nuclear, "o país possui uma matriz diversificada, com forte presença de fontes como hidrelétrica, etanol, solar e eólica, o que pode tornar desnecessária uma ampliação expressiva da produção nuclear no curto prazo", finaliza.
Sobre a publicação na Resources Policy, o professor ressalta a visibilidade e o reconhecimento acadêmico proporcionados pela revista, considerada uma das principais da área. Ele avalia que a exigência editorial contribui para o aprimoramento de sua produção científica e para o avanço das pesquisas desenvolvidas na Universidade.
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